terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Almoço-Aniversário Pt. 2

O Almoço-Aniversário começava às duas da tarde, era um compromisso. Entro no “Box” (acho engraçada essa palavra que usamos como referência para o lugar em que tomamos banho, só agora parei pra pensar que “Box”, na verdade é caixa, por isso, a partir de hoje chamo esse lugar de caixa)... Enfim, entro na “caixa” e ligo o chuveiro bem forte e gelado. Sempre adorei essa sensação da água bem pesada em cima de mim, acho que me lembra uma cachoeira, eu sempre gostei disso. Saio e como de costume, me enxugo fora da caixa molhando o banheiro todo. Depois o seco com minha toalha.

Olho no espelho e me sinto um merda. Minha barba é grossa, escura; meus olhos parecem cair mergulhados nos meus cabelos que estão longos demais, eu pego o pente e penso em colocar para trás, mas quem usa o cabelo assim costuma ter um emprego, então os deixo assim mesmo com a franja caindo nos meus olhos e se misturando com minhas sobrancelhas. Coloco uma camisa branca de manga curta, calça jeans e um tênis velho que é o único no meu armário. Saio de casa já meio atrasado, uma e meia no relógio da praça perto do meu apartamento, eu preciso correr. Chego no restaurante as duas e quinze, atrasado, suado, descabelado e com uma ereção matinal tardia, é aniversário da minha mãe e eu chego atrasado, merda!

O restaurante é espanhol, vamos comer paeja como todos os anos. O homenzinho que fica na frente indicando as mesas me pergunta se eu estou sozinho – e com um olhar de desconfiança que me deixa puto. Eu só sigo em direção a mesa em que vejo minha família sem dizer uma palavra, sinto os olhos dele me seguindo como um sensor, pronto pra chamar o segurança caso eu seja um andarilho atrevido. Na mesa tem seis pessoas: avó, avô,pai, tia solteira, irmã adolescente e seu namorado; eu chego aos poucos no meu lugar, todos continuam falando sem parar.

- Eu já disse que não estou comendo carboidratos!
- Mas carne de peixe não tem carboidratos minha filha.
- Cadê esse garçom? Minha coca ta fervendo!

Eu sento  perto da ponta, ao meu lado fica o lugar do pai, ele se aproxima e fala no meu ouvido:

- Sabia que você chegaria atrasado, sempre atrasado pra tudo nessa vida... Você tem certeza que deveria estar aqui?

Eu balanço a cabeça positivamente, mas não digo nada e nem olho nos olhos dele.

 - E cadê o presente da sua mãe? Não trouxe né?!... Tó aqui, comprei esses brincos pra você fingir que deu alguma coisa e ela não sentir tanta vergonha do próprio filho não ter dinheiro nem pra cortar o cabelo mais.

Eu peguei os brincos e enfiei no bolso, amassei um pouco o embrulho, mas que diferença isso faz?



4 comentários:

  1. Estas duas partes da história saciaram a fome que tinha das tuas palavras!!
    (Explicas-me a última parte da primeira parte da história? É que não sei se percebi bem quem era o homem.)
    Grande beijinho

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  2. Agradeço sua visita mais uma vez!
    O homem que aparece na infância foi uma forma do personagem perceber que sua mãe tinha um papel além desse, de mãe; a mãe também tem um papel social, de mulher. o homem aparece na vida desse garoto por um dia apenas, e nessa mistura de memória com lembrança afetiva, fica tudo muito confuso mesma para ele! Ele não sabe o que aconteceu ali: se aquele homem é um amante de sua mãe, um amigo, um desconhecido...

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  3. Muito bem! Obrigada pela explicação.
    Interpretei assim. :) *

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